O amor é um estado natural da consciência. Não é nem fácil nem difícil, essas palavras de forma nenhuma se aplicam a ele. Ele não é um esforço; por isso não pode ser fácil nem pode ser difícil. É como respirar! É como as batidas do coração, é como o sangue circulando no nosso corpo.
Então o ódio é fácil, e o amor não só é difícil como impossível. O homem tem sido deturpado. Ele não pode ser reduzido à escravidão se não for primeiro deturpado. Os políticos têm participado de uma profunda conspiração ao longo das eras. Eles têm reduzido a humanidade a uma multidão de escravos. Estão destruindo qualquer possibilidade de rebelião no homem – e o amor é uma rebelião, porque o amor ouve só o coração e não dá a mínima para o resto.
E a melhor maneira de destruir o homem é destruir sua espontaneidade de amar. Se o homem tiver amor, não poderá haver nações; as nações existem no ódio. Os indianos odeiam os paquistaneses e os paquistaneses odeiam os indianos – só assim esses dois países podem existir. Se o amor surgir, as fronteiras vão desaparecer. Se o amor surgir, então quem vai ser cristão e quem vai ser judeu?
Se o amor surgir, as religiões desaparecerão.
Se o amor surgir, quem irá ao templo? Para quê? É porque está faltando amor que você sai em busca de Deus. Deus não é nada mais do que um substituto para o amor que está faltando. Como você não é bem-aventurado, não está em paz, não está em êxtase, você está em busca de Deus. Se a sua vida é uma dança, Deus já está no seu coração. O coração amoroso está cheio de Deus. Não há necessidade de mais nenhuma busca, não há necessidade de mais nenhuma prece, não há necessidade de ir a templo nenhum.
Eles criam medo em você, mil e um tipos de medo. Você fica cercado de medos, toda a sua psicologia é cheia de medos. Lá no fundo você está tremendo. Só na superfície você mantém uma certa fachada; mas, dentro de você, existem camadas e camadas de medo.
Um homem cheio de medo só pode odiar – o ódio é uma consequência natural do medo. Um homem cheio de medo é também cheio de raiva, e um homem cheio de medo é mais contra a vida do que a favor dela. A morte parece um estado repousante para ele. O homem temeroso é suicida, tem uma visão negativa da vida. A vida lhe parece perigosa, pois viver significa que você terá de amar – como você poderá viver? Exatamente como o corpo precisa respirar para viver, a alma precisa de amor para viver. E o amor está definitivamente envenenado.
Os cientistas dizem que o homem comum usa, ao longo de toda vida, só 5% da inteligência. O homem comum, só 5% – e o homem fora do comum? E um Albert Einstein, um Mozart, um Beethoven? Os pesquisadores dizem que mesmo as pessoas muito talentosas não usam mais do que 10%. E aqueles que chamamos de gênios usam só 15%. Pense num mundo em que todos usassem 100% do seu potencial… Então os deuses ficariam enciumados, eles gostariam de nascer na Terra. Então a Terra seria um paraíso, um super paraíso. Do jeito que está agora, ela é um inferno.
Se o homem fosse deixado em paz, em vez de ser envenenado, o amor seria uma coisa simples, muito simples. Não haveria problema nenhum. Seria como a água seguindo a correnteza ou o vapor subindo, as árvores florescendo, os pássaros cantando. Ele seria tão natural e tão espontâneo!
O amor é simples se deixarmos que a criança cresça, se a ajudarmos nesse crescimento de uma forma natural. Se a ajudarmos a ficar em harmonia com a natureza e com ela mesma, se a apoiarmos, cuidarmos dela e a estimularmos, em todos os sentidos, a ser ela mesma, uma luz para si mesma, então o amor será simples. Ela será simplesmente amorosa! O ódio será quase impossível porque, antes que você possa ter ódio de alguém, é necessário primeiro que crie o veneno dentro de si mesmo.
Você só pode dar uma coisa a alguém se você a tiver. Só pode odiar se estiver cheio de ódio. E estar cheio de ódio é estar queimando por dentro. Estar cheio de ódio significa que, antes de mais nada, você está machucando a si mesmo. Antes de poder ferir outra pessoa, você tem que ferir a si próprio. O outro pode não ser ferido, isso dependerá dele. Mas uma coisa é absolutamente certa: antes de poder odiar, você tem que ter sofrido muito. A outra pessoa pode não aceitar ser odiada, ela pode rejeitar seu ódio. Ela pode ser um Buda – pode simplesmente rir do seu ódio. Pode perdoar você, pode não ter reação nenhuma. Talvez você não seja capaz de odiá-la, caso ela não esteja pronta para esboçar qualquer reação. Se você não consegue deixá-la perturbada, o que pode fazer? Sente-se impotente diante dela.
Portanto, a outra pessoa não vai necessariamente se sentir ferida. Embora uma coisa seja absolutamente certa: se você odeia alguém, primeiro tem de ferir sua própria alma de tantas maneiras, tem que estar tão cheio de veneno que consegue atingir os outros com esse veneno.
O ódio não é natural.
O amor é um estado saudável; o ódio é um estado doentio. Assim como a doença não é natural. O ódio acontece só quando você se desvia da natureza, quando já não está em harmonia com a existência, já não está em harmonia com seu próprio ser, com sua essência mais profunda. Então você está doente – psicológica e espiritualmente. O ódio é só um símbolo da doença, e o amor, da saúde, da plenitude e da santidade.
Você só conhece um jeito de amar, que é odiar os outros.
O amor devia ser uma das coisas mais naturais deste mundo, mas não é. Pelo contrário, ele se tornou a coisa mais difícil – quase impossível. Odiar ficou mais fácil; você é treinado, é preparado para odiar. Ser hindu é morrer de ódio dos muçulmanos, dos cristãos, dos judeus; ser cristão é morrer de ódio das outras religiões. Ser nacionalista é morrer de ódio das outras nações. Você só conhece um jeito de amar, que é odiar os outros. Você só consegue mostrar o amor que sente pelo seu país odiando os outros países e só consegue mostrar o amor que sente pela igreja odiando as outras igrejas. Sua vida está uma bagunça.
As assim chamadas religiões continuam a falar de amor e tudo o que elas fazem neste mundo é criar mais e mais ódio. Os cristãos falam de amor e têm criado guerras, cruzadas. Os muçulmanos falam de amor e têm criado jihads, guerras religiosas. Os hindus falam de amor, mas você pode ler nas escrituras desse povo – eles estão cheios de ódio, ódio pelas outras religiões. E nós aceitamos toda essa bobagem! Aceitamos sem demonstrar nenhuma resistência, porque fomos condicionados a aceitar essas coisas, fomos ensinados que as coisas são assim mesmo. E então você continua a negar sua própria natureza.
Não seja um escravo para sempre
O amor tem sido envenenado, mas não destruído. O veneno pode ser neutralizado, pode ser retirado do seu organismo – você pode ser purificado. Pode vomitar tudo o que a sociedade o forçou a engolir. Pode jogar fora todas as suas crenças e todos os seus condicionamentos – pode se libertar. A sociedade não pode fazer de você um escravo para sempre, caso decida ser livre. Chegou a hora de jogar fora todos os padrões obsoletos e começar uma vida nova, uma vida natural, não repressora, uma vida não de renúncia, mas de alegria. Odiar ficará a cada dia mais impossível. O ódio é o polo oposto do amor, assim como a doença é o polo oposto da saúde. Mas você não precisa optar pela doença.
A doença oferece umas poucas vantagens que a saúde não pode oferecer; não se apegue a essas vantagens. O ódio também tem umas poucas vantagens que o amor não tem. E você tem que ser muito observador. A pessoa doente ganha a simpatia de todos; ninguém a fere, todo mundo toma cuidado com o que lhe diz, afinal ela é tão doente! Ela é o centro das atenções, o centro de todo o mundo – da família, dos amigos – passa a ser a pessoa de quem todos falam, uma pessoa importante. Agora, se ela se apegar muito a essa importância, ao fato de seu ego estar satisfeito, ela nunca mais vai querer ser uma pessoa saudável. Ela se agarrará à doença. E os psicólogos dizem que existem muitas pessoas apegadas à doença por causa das vantagens que ela oferece. E essas pessoas investiram tanto tempo nessa doença que se esqueceram completamente de que estão apegadas a ela. Tem medo de que, se ficarem saudáveis, não terão mais ninguém.
Você ensina isso também. Quando uma criancinha fica doente, toda a família se volta para ela. Isso é absolutamente não-científico. Quando a criança estiver doente, cuide do corpo dela, mas não lhe dê atenção demais. É perigoso, porque ela associa a doença à atenção que você lhe dá… O que fatalmente acontece, se isso se repetir muito. Sempre que a criança fica doente, ela passa a ser o centro das atenções de toda a família: o papai vem, senta-se ao lado dela e pergunta como está se sentindo, o médico é chamado, os vizinhos começam a aparecer, os amigos perguntam e as pessoas trazem presentinhos…
Se você é muito apegado ao ego, odiar é fácil e amar é muito difícil. Fique alerta, atento: o ódio é a sombra do ego. Para amar é preciso grande coragem. É preciso grande coragem porque requer o sacrifício do ego. Só aqueles que estão prontos para se descorporificar são capazes de amar. Só aqueles que estão prontos para transformar-se em nada, para esvaziar-se completamente de si mesmos, são capazes de receber, do além, o dom de amar.