Quem vê teu sorriso assim distraído não sabe o quanto o tempo zomba de ti.

Ele te tortura sempre que sorris, pois sabe que sorris pra esconder o medo.
Talvez ele te inveje por alguns segundos, ou talvez não saiba muito a teu respeito.
Mas só ele decifra-lhe sorrisos e olhares como poucos.

Talvez ele passe por ti desconsertante. Devastador.
Talvez problematize, cause dor. Talvez cause rugas, e as rugas rasguem teu rosto com o tempo.
Mas no jogo da vida, o rasgar das rugas no rosto é o mal necessário para a vitória.
E o tempo, imponente, apenas assiste os personagens desse jogo digladiando-se num embate cronológico do ser contra ele mesmo.

Mas se pudéssemos analisar na métrica da justiça o que ao tempo atribuímos, talvez chegássemos à uma pavorosa conclusão: houve injustiça no nosso julgo. O senhor tempo talvez não seja tão cruel.
Por mais que passe, “atropele” e leve consigo a elastina da pele, não seria ele o tal vilão da história. Ainda que leve, por alguns dias, a auto-estima da vida, não seria ele criminoso.

Não foi o tempo autor do crime doloso. A ele também estão isentas as culpas, medos, maldizeres e maldições.
A ele estão empetrados os nossos mais profundos desejos de que recomece sempre um pouco mais devagar. É ao tempo que pedimos paciência para suportar o insuportável. Ah… O tempo!

Esse sorriso distraído que carregas emoldurado no rosto é digno da riqueza formidável que o circunda.
Esbanja beleza e harmonia infinitas que ao Homem são fatais. E se o próprio tempo, por um descuido, se personificasse, voltaria por uma fração de segundos só para contemplar o mistério enigmático que ele possui. Ao se aproximar do teu rosto, daria-te um beijo de afago atemporal e diria: nunca deixes de sorrir, sois feito de eternidades. O teu sorriso irradia paz...