APELO DE MULHER

Não me queira eternamente jovem. O tempo passa por mim e deixa vincos e linhas. E fecha minhas feições, mas amplia minha forma de ler o mundo;
Não me queira um ideal de beleza física. É o que há de mais efêmero. A beleza migra para outras partes e assume, em mim, outras nuanças. É preciso olhos especiais pra percebê-la;
Não me queira mãe perfeita, modelo de amor incondicional. Tenho minhas reservas de egoísmo e ressentimento. Espero compartilhamento e reconhecimento.
Não me queira submissa e oprimida. Preciso autonomia para exercitar a minha compreensão. É a concessão para que eu seja companheira;
Não me queira como metade. Se me divide terá de mim uma parte. Se o todo me vê, sou doação. Inteira;
Não me queira sexo frágil. Nossas forças se equilibram e se potencializam. Juntos somos maiores e melhores;
Não me queria mulher de Romantismo idealizada. Posso ser, a um tempo, santa e pecadora. Vivo na terra, viajo pelas nuvens;
Não me queira desvendada. Sou obra do Criador. Sou mistério e transparência. Às vezes, sou paradoxo e antítese e elipse;
Queira-me assim como sou: amiga e irmã, mãe e amada, amante e mulher. Sobretudo, uma fusão de polos antagônicos.
E que me queira dona de todos os meus dias.
madrid