A CRUELDADE DA MALDADE FICA NA IMPUNIDADE
1ª parte - VIDA EM FAMILIA
Ana, a passarinha, nasceu feliz num ninho capaz de lhe proporcionar tudo de que precisava.
Com o passar do tempo, o que era típico de sua tenra idade se tornou muito curiosa, querendo conhecer alem de seus limites.
Sua mãe e seu pai, que até agora só tinham uma preocupação, a de alimentá-la, começaram a sentir um certo perigo no temperamento desta avezinha travessa, o que determinou que novas atitudes fossem tomadas a partir daquele dia.
Daqui para a frente Ana só comeria sua refeição quando aprendesse a lição do dia.
E assim começaram seus pais uma série de aprendizados importantes à educação e segurança da passarinha.
Iniciaram por ensiná-la a observar a natureza de forma a perceber o que deveria ou não fazer, disto dependeria sua sobrevivência e a perpetuação de sua espécie.
Ana assim o fez, tudo pelo bem estar de seu estômago, sem pensar que aquelas lições eram de fato um precioso presente que seus pais lhe estavam dando, e que ela deveria usá-los por toda a sua vida.
Em uma certa ocasião, Ana recebeu de seus pais o seguinte ensinamento,
disseram eles :
__ Minha filha toda vez que fores sair do ninho, observe primeiro o céu, para saber se não existem animais que poderiam querer lhe fazer mal.
E os ensinamentos se sucediam um após outro .
Enfim, os pais de Ana sabiam que estavam a lhe dar o melhor de sí para ela, e não mediam esforços na sua tarefa.
Um outro ensinamento dado e ela, também foi que, antes de pousar em qualquer galho, de qualquer arvore, ela observasse se ele estava bastante forte para aguentar seu peso , e se ele era um galho normal como todos os outros, pois, se ele se mexesse não seria bem um galho ,mas sim ,poderia ser uma cobra e ela ficou toda arrepiada escutando tudo com muita atenção, ou quase muita, pois o que queria mesmo ,era comer sua minhoca do dia .
Depois de mais este estudo , seu pai continuou dizendo que se o galho tivesse uma coloração diferente dos outros, ela também não poderia pousar nele, pois ,deveria dar sempre preferência aos galhos normais, estes eram os mais seguros e este tinha sido um ensinamento muito antigo, passado de geração para geração desde os seus avós.
E o tempo foi passando, e Ana agora mais forte, já tinha suas aulas práticas, iniciando as aulas de voo estava muito feliz pois poderia voar junto com o bando da família, e isto era muito bom porque no percurso poderia abrir seu bico, e com um pouco de sorte, agarrar um deste insetos bobos, que ficam pedindo para serem engolidos.
Chegado o dia mais importante de sua vida seus pais lhe disseram :
__ Ana, querida filha, eu e sua mãe, queremos lhe dizer que, a partir de hoje, tens liberdade de sair do ninho, confiamos em você, já está apta a voar com todo o bando, e então, come a sua alimentação trazida por nós ,que vamos te apresentar a todos, como a nossa avezinha mais querida e verá como a tratarão com muito carinho.
E assim, Ana foi apresentada a todo o bando, e todos ficaram muito felizes por receber tamanha formosura de passarinha, e teve até alguns possíveis pretendentes a olharem diferente para ela, mas, Ana só pensava em abrir o seu biquinho, e sentir o ar entrar na esperança de conseguir um insetinho para a sua pancinha.
Pois é, Ana era realmente uma passarinha destinada a gulodices, e isso não era um bom presságio para uma passarinha tão inexperiente.
2ª parte - EXPERIMENTANDO A LIBERDADE FORA DA FAMILIA
O tempo foi passando, e Ana já uma jovem bastante atraente, não pensava em outra coisa senão o de brincar, comer, e se divertir por cima dos quintais das pessoas que moravam lá em baixo, e ela se lembrava bem de que sua mãe lhe dissera, que lá tinha muita comida, mas, que ela nunca fosse lá, pois era muito perigoso, e aqueles seres enormes que moravam lá em baixo, tinham um gosto muito esquisito, que era o de prender alguns pássaros em gaiolas, só para que esses não pudessem mais voar livres.
E o que era pior…. davam ração e agua clorada, e isso provocava muita dor de barriga, e os pássaros presos ficavam o tempo todo a pedir de dentro da gaiola para serem soltos pois, precisavam curar as suas dores com ervas que eles sabiam que existiam na natureza, mas, os seres maus achavam bonito estes piados de socorro e interpretavam como musica aos ouvidos e que muitos presos acabavam por morrer por falta de cuidados , falta dos de seu povo , falta de grãos de areia necessário para digerir certos alimentos, enfim, morriam até de tristeza por escutarem ao longe seus amigos, e nada poderem fazer.
Nesta altura, existia um menino gordo e estranho, morando num dos quintais lá em baixo e ele se chamava Henrico e andava muito ocupado tentando subir numa arvore, coisa que raramente fazia , enfim coisa boa é que não seria pois era conhecida a fama de tal "peste" que só fazia maldades .
3ª parte - A CURIOSIDADE
Numa tarde, Ana e seu bando, davam as suas voltas corriqueiras por aquelas vizinhanças, e Ana sem querer, olhou na direção daquele quintal, e sua vista se ofuscou com o brilho de um galho de uma arvore alta. Ficou quase que hipnotizada, por tão estranho brilho, e, pensou, pensou ....
_ Que será aquilo?
_ Tão esquisito!
_ Será que é mel que escorreu lá?
_ Será que é uma daquelas deliciosas lesmas suculentas e gordas que deixou seu rastro por lá ao passar pelo galho?
_Se for isso ! nham ...nham...nhack
Sua cabeça pulava de alegria só de pensar que poderia ser uma daquelas deliciosas lesmas, e não queria falar nada para ninguem, pois, nem pensar em dividir sua prenda .
Foi para casa, e tomou uma resolução, voltaria lá no dia seguinte para avaliar melhor aquele achado, mas, em silêncio, não ousaria contar a ninguém sobre seu intento, pois já sonhava em se banquetear sozinha sem interferência alguma, ficaria satisfeita por vários dias e era tudo que ela queria, nem conseguiu pregar o olho e dormir naquela noite, não via a hora de ir lá e tirar tudo a limpo, valia a pena, não ia perder nada por isso, e nem teria problema nenhum, pois, a arvore era muito alta e livre de qualquer perigo.
Foi a noite mais longa da vida de Ana, e esta nem bem esperou o dia começar a clarear e já estava pronta para ir sem dar qualquer explicação a ninguém, iria fazer tudo na surdina, e só depois de consumado, humm....humm... e comido, é claro, falaria a todos de sua sorte e esperteza.
3ª parte - A INFELIZ DECISÃO
E Ana, a passarinha, partiu para a sua investigação solitária, crente que só ela se beneficiaria com o achado, pois só ela tinha avistado aquele galho tão brilhante, e tão misteriosamente apetitoso , primeiro Ana se certificou de que ninguem a seguisse, pois nem pensava em dividir algo tão sensacional com ninguém e depois se pôs a caminho.
Ana com prudência pousou num galho bem longe daquele só para observar e pensou… pensou onde poderia estar a gorda da tal lesma? ficou lá por um tempo e depois de alguns calculos rapidos achou que se ela passou por alí no dia anterior, então ela não poderia estar longe ou seja se fosse lá naquele galho onde a lesma tinha passado poderia ter uma visão mais ampla do percurso dela. E se pôs a caminho daquele fatídico galho, seu coração pulava de emoção e seus olhinhos só procuravam a lesma mesmo durante o percurso do pequeno voo até o galho.
__Nossa ...que é isso! exclamou Ana
Ta grudando meus pezinhos não consigo dar nenhum passo ...hei que está acontecendo? bato minhas asas e nem sequer consigo sair do lugar .
Vou tentar bicar e bicar esta gosma até me soltar.
__ Lesma gosmenta desgraçada porca que quando anda deixa para traz esta gosma que prende a gente.
Só que Ana não conseguia se soltar, e já estava começando a ficar desesperada, seu coração já dava pulos dentro do peito mas, desta vez não era de alegria e sim de desespero e começou a gritar socorro para toda a gente vir tentar ajudá-la. E veio todo mundo mas nem sequer pensaram em baixar naquele galho pois sabiam da lenda do galho brilhante que tanto seus avós diziam para eles que eram para nem sequer chegarem perto , enfim todos foram chegando e Ana muito envergonhada continuava a pedir socorro .
Todo o bando se pôs a pensar em como poderiam ajuda-la, mas, os mais velhos sabiam que era um caso perdido então evitavam olhar para ela para não sofrerem tanto , sabiam que só um milagre poderia ajudar Ana .
E assim passou o tempo, Ana já estava colado ao galho a muito, e seu estômago doía de fome, então, alguns ate providenciavam comidinha no seu biquinho e ela comia agradecida mas seus pezinhos doíam muito e já começavam a ficar gelados de frio, foi quando todo o bando saiu em disparada para longe e Ana se viu sozinha num desespero total, não sabia nem sequer porque todos tinham se ido deixando-a a sua própria sorte, foi aí que no seu desespero total avistou aquele ser repugnante gordo com um sorriso enorme no rosto que só podia ser de pura maldade subindo a arvore em sua direção.
4ª parte - A CONSTATAÇÃO DOLOROSA
Passaram-se momentos de total desespero para Ana que só agora tinha percebido que tinha sido uma tola ao ter pousado naquele galho brilhante, e que tudo não passara de uma armadilha feita pelo Henrico para pegar os pássaros trouxas que não percebem o quanto é importante aprender com os mais velhos. Infelizmente estava tudo perdido e aquele menino já estava quase chegando lá, era só mais questão de uns minutinhos e tudo estava consumado, seu destino estava traçado, não tinha nem sequer a possibilidade de se tornar uma passarinha adulta e tudo por causa de sua teimosia sua gulodice seu egoísmo e agora Ana tinha passado um atestado de burrice e pagaria caro por seu comportamento a única coisa que ela via de positivo, se é que se pode dizer que há algo de positivo nisto, é que serveria de lição para todo o bando pelo menos aqueles que se achavam mais espertos, mas, Ana só lamentava que fosse ela, a lembrar isso a todos, no seu santo egoismo ainda preferia que fosse outro a lembrar o bando, e que ela estivesse a salvo com todos voando longe da li para lugares seguros.
Enfim, pensamento típico de uma passarinha egoísta, errou, e ainda queria que outro tivesse errado e estivesse no seu lugar. Ela nem sabia ainda o que estava por vir, mas, podia imaginar, e isso lhe dava até nauseas de tanto medo.
O medo de Ana teve fundamento, pois, quando o gordo chegou até perto do galho brilhante, esticou sua mão e agarrou o pescoço de Ana com tanta força, que ela teve que fazer um esforço enorme para seu coração não saltar pelo bico, seu coração acelerou e só então percebeu que agarrada pelo menino se puseram em marcha de descida da arvore, só que quando o menino a desgrudou do galho nem percebeu que a pobre Ana tinha também perdido metade da pele da parte de baixo de seus dois pezinhos, e isto agora ardia e queimava terrivelmente, mas que não seria o motivo de sua morte, pelo menos agora só tinha que preocupar de continuar respirando, visto que a mão gorda do menino a apertava de forma esmagadora.
Assim que chegaram ao chão, Henrico já tinha tudo preparado, isto é, uma gaiola fria, de lata, com um espaço minimo que não dava para Ana nem esticar suas asas, com um pauzinho imitando um galho mas que se via que era de madeira morta sem folhas, duas vasilhinhas, uma de um liquido parecido com agua que ela iria experimentar mais tarde, pois estava com a garganta seca e umas bolinhas parecidas com pequenos grãos de areia, mas que ate tinha um sabor agradável a princípio .
5ª parte - VIDA DE CATIVEIRO
E assim mudava a vida de Ana, daqui por adiante, ela sabia que estava em total dependência daquele ser desprezíve,l e que se ele quisesse, poderia mata-la de fome, de sede e de calor se por acaso a esquecesse secando ao sol, sem contar os outros perigos tais como, gatos, ratazanas e tudo o mais que vinham de seus mais desesperados pesadelos.
Mal sabia Ana, que o destino ainda aguardava coisa muito pior para ela, senão teria pedido para a matarem agora mesmo, coitada. De vez em quando o menino batia na gaiola e falava lá na linguagem dele,alguma coisa, mas ele a assustava tanto que ela só se batia de um lado a outro na gaiola causando vários hematomas para a semana toda.
Um certo dia, ele estava com um olhar muito estranho, demonstrando que algo de terrível ia acontecer, mas, nem de perto poderia supor o que estava por vir, então esperei ,mesmo porque só isso podia fazer isso, esperar e observar e comer aquela ração que já me andava a fazer mau ao estomago e aquela agua ....ai ..ai..aquela agua quente e passada as vezes de três dias ...estava a me dar ...náuseas de nojo.
Então, o menino com alguma idéia na cabeça, começou a subir numa outra arvore,ate parecia uma bolota nogenta escalando um pico, e, daquela arvore forte deixou cair uma fruta grande que fez um estrondo enorme ao alcançar o chão foi aí que pensei que o bolota podia cair também, mas não, ele foi e veio com a mesma facilidade ( ou quase, devido a sua gordura) e quando desceu ao chão, pegou uma faca e enfiou no bucho da coitada da fruta e estrebuchou ela rasgando sua barriga e deixando amostra suas vísceras brancas ( só mais tarde vim a saber que esta fruta era uma jaca) .
Então, Henrico sujou bem as mãos dentro da jaca, subiu novamente naquela mesma arvore onde eu havia sido presa e fez a mesma coisa em outro galho, deixando-o bem besuntado, a fim de que outra vítima caisse na mesma armadilha, como eu havia caido a tempos atrás. Só agora me apercebia como eu havia sido trouxa .
Pois bem, assim que ele desceu da arvore fatídica, tentou limpar as mãos gordinhas com sabão, e que nada, aquela gosma nem sequer pensou em abandonar a mão dele e apesar dele passar sabão novamente tudo estava como antes, colada colada, eu até me ria por dentro e me dizia : __ bem feito ! tomara que fique assim para o resto da vida gorda dele ha! ha! , mas sim ...o espertinho foi logo lá dentro de casa e colocou óleo de fritar nas mãos, e a gosma se foi, virou-se para mim e disse:
-Anda lá sua merdinha, pia… pia… e chama outro otário para mim .
Eu fiquei tão calada que nem dei um piozinho, e de resposta ganhei um tapão na gaiola que me deixou zonza.
Enfim, ele viu que eu não ia entregar nenhum amigo meu para aquela arapuca desgraçada.
Passado 3 dias, Henrico viu que a gosma já estava perdendo seu visgo, então, com a brincadeira desmoronada, olhou para o meu lado, e percebí que aí eu estava perdida . Um medo terrível se apossou de mim, e senti um frio tremendo me congelando a espinha. Pensei até em me atirar nas grades da gaiola, e quebrar meu pescoço mas desistí ,era uma covarde inveterada mesmo.
Foi aí então, que Henrico decidiu abrir a gaiola e me pegar pelo pescoço, para variar, e, depois disso não entendí nada, abriu minhas asinhas brancas, passou por uma tigelinha colorida de verde,e pintou pena por pena da minha asa, de modo que fiquei com as duas asas toda verde, em seguida passou os dedos numa tigela vermelha, e pintou todo meu corpinho de vermelho, cobriu tudo, não restou nada branco e como se não bastasse, ainda pintou meu biquinho de cor laranja bem escuro . Eu já estava toda perdida, e nem sabia mais o que pensar . O que será que ele queria comigo? Quais eram suas intenções? Queria uma ave diferente? Já não me aguentava toda branca? Ia me vender como periquito? Mal me perguntava isto e fui levada de volta à gaiola a fim de que minhas penas se secassem .
6ª parte - DOCE ILUSÃO
Mas o que se seguiu logo adiante ainda me foi mais estranho . Nem podia acreditar no que via . Era impossível o que o menino estava fazendo agora, com um sorriso angelical nos lábios ele abria a portinha da gaiola e me dizia palavras amáveis, do tipo ,vá embora avezinha para a sua casinha , sua familia te espera... Vá, voce está livre. Eu nem acreditava nisto, mas como percebí que ele estava tão amável e com a porta da gaiola aberta, dei dois passinhos em direção a esta, e na porta batí minhas asas e pude perceber que elas prontamente estariam aptas a levantar voo, e mal fiz isso, pude ver meu bando ao longe em formação livre, lindo, com meu pai o mais antigo deles a frente, minha mãe logo atrás, e eu me atirei ao ar rumo a minha felicidade, pensando que tudo o que eu passara ficaria esquecido num passado remoto.
Estaria tudo bem assim que eles me vissem, e eu pensaria em ficar mais tempo com minha familia , com meus amigos, e tudo não passaria de um pesadelo do passado ,daí para a frente, felicidade total.
Mas, logo que cheguei nas alturas, comecei que nem doida a piar alto, de tanta emoção, chamei por todos, só que, como estava contra o vento, só o ultimo dos passaros me percebeu, e se virou para traz para entender o que se passava, e ficou apavorado chamou a atenção de todo o bando dizendo que estavam sendo atacados por uma ave estranha que tinha cores de piriquito de bico de cor muito forte, e que todos juntos teriam que abate-la imediatamente pois a estranha ave gritava muito e podia estar chamando o bando dela .
Então, o bando todo mudou de direção e começaram a bicar a cabeça da estranha ave, e outras, no corpo, no pescoço, isto é, em todos os locais vitais da pobre Ana, e dela, começou a sair pequenos pingos de sangue por todos os furos do seu pequeno corpo, por fim, arrancaram seu olho e um bico mais forte puxou a sua arteria do pescoço num golpe fatal e Ana não aguentou mais tanto esforço, foi caindo,caindo, em pouco tempo já se encontrava no chão, ainda com vida só deu para escutar o menino falar :
__ HA! coitadinha !!!..... não te reconheceram? Por que será?
FINALMENTE ANA DEU SEU ULTIMO SUSPIRO,e morreu numa poça da mesma cor de seu peito ...
VERMELHA .